2007/04/24

Sócrates e a teoria da mera hipótese


José Sócrates está envolvido numa história mal contada. E falta nela um fio condutor. Que desconhecemos todos. Uma simples e prosaica explicação que, de repente, tudo explique. Precisamente por desempenhar altas funções de Primeiro-Ministro e nos vergastar a todos com argumentos de confessado rigor, e exaustiva autoridade moral, importa esclarecê-la também até à exaustão.

Eis uma teoria da simples hipótese, em forma de sete perguntas:

1ª - Sócrates que durante muitos anos viveu na minha terra natal quis concorrer a funcionário da Câmara Municipal da Covilhã?
2ª - Queria aceder à categoria de técnico superior principal, para a qual se carece necessariamente de uma licenciatura? E ainda não a tinha?
3ª - Houve nessa ocasião um concurso público cuja oportunidade Sócrates não quis perder?
4ª - Faltava-lhe uma indispensável licenciatura pelo que importaria deitar mão de uma solução de recurso?
5ª - Foi para esse efeito que um hipotético certificado de habilitações de Sócrates apareceu no Município da Covilhã? Emitido em que data? Aí entregue em que data?
6ª - A ter existido, o acesso a esse concurso público terá terminado em data anterior à conclusão da licenciatura de Sócrates? Mas o certificado de uma ainda inexistente licenciatura foi entregue para efeitos de tal hipotético concurso?
7ª - A ser assim, estaríamos perante um concurso público viciado, por um dos concorrentes ter apresentado certificado de habilitações que à data de acesso ao concurso ainda não possuiria?

Qual é a resposta a estes sete pecados mortais?

Em situação semelhante, que não será certamente esta, o visado envolveu-se de forma fraudulenta num concurso de acesso à função pública, pelo que esse concurso foi considerado nulo, o funcionário sujeito a processo disciplinar e expulso da função pública?

Confesso que não irei de visita à minha terra natal para vasculhar os arquivos da Câmara Municipal. Mas, se a teoria da mera hipótese estiver certa, teremos o engenheiro expulso de São Bento? Talvez não chegue a tanto.

2007/04/17

A Imigração à Gato Fedorento


O caso dos dois cartazes no Marquês é sintomático da má aplicação do Direito. Exemplo de como respeitar o Direito não se resume, nem pode resumir, a aplicar a regra jurídica.

Havia dois cartazes: um dizia "Basta de imigração". Ainda lá está, porque paga a taxa. O outro dizia: "Mais imigração". Já lá não está, porque não pagou a taxa camarária.
O primeiro conspurca o ambiente e polui a nossa inteligência e bom senso, mas ainda lá está. O outro opõe-lhe uma lufada de ar fresco, de íntegro civismo, e já lá não está. A Câmara, de outro engenheiro, retirou-o.

Está mal aplicado o Direito e tudo o mais aparece invertido. Porque que é que a Câmara da Capital do país, é governada por gente sem dois dedos de testa?

2006/12/21

Boas Festas porque 2007 valerá a pena


Está na hora das Boas Festas. Está aliás mais do que na hora, visto que já recebo votos de Bom Natal desde quase o começo de Dezembro.
Mas, para quem preze esta época, e sobretudo os que nos rodeiam, está mais que chegado o tempo.

Ainda me lembro como era antigamente. Lá em casa era um acontecimento. Os pais e a pequenada, todos em redor da mesa circular da sala de estar, redigiam, endereçavam, sorteavam, inseriam, colavam e empilhavam um considerável número daqueles pequenos envelopes que só na época natalícia era usual utilizar. O carteiro – pois, havia serviço postal –, lá se encarregava do resto.
Hoje está tudo mudado.

A electrónica e as comunicações móveis destronaram a saborosa sensação de endereçar uma carta, pequena, mas única, pessoal, cheia de encantos e surpresas e com um colorido selo. Cada envelopezinho era então uma mão cheia de aconchego.

Hoje mandam-se mensagens sms e mms. Ainda se fossem m&m’s, sabiam pelo menos a chocolate. Ai, como eu detesto essas frias, impessoais e repetitivas sms’s. As operadoras móveis até as inventam, literalmente. Há sempre quem lhes ache piada e as reenvie em série. Abomino o mercantilismo aplicado ao sentimento. Falta-lhes tudo, daquilo em que consiste uma verdadeira mensagem dirigida e desejada a uma pessoa especial. Como não quero ser indelicado lá respondo a quase todas.

Dirão, aliás com razão, que não me adapto às modernices. Talvez. Contento-me sem ripostar que há coisas na vida que não envelhecem e nunca saem de moda. Um exemplo? É fácil: os sentimentos não envelhecem. Amar ou gostar de alguém preserva-se, manifesta-se e cresce, mas nunca passa de moda.
O máximo que consigo acompanhar é fazer uso da net porque também já não tenho paciência para coleccionar endereços que diligentemente se escrevem em pequenos envelopes.
Boas Festas! Que este Natal revele como vale a pena estar acordado em 2007.
Ver-nos-emos. Por aí.

2006/12/13

Estou “canutado”


Diz-se do piloto-aviador que cumpre a formação que é “brevetado”, talvez porque ao condutor de veículo automóvel se lhe chame “encartado”.
Não sendo eu encartado em nada, surge-me hoje esta do canudo. Daí achar, mal, talvez, que estou “canutado”. Dá para sorrir. É aquilo, que não sendo só papel, alguns acham que têm, sem contudo terem.
A todos e todas que hoje, a meu lado, receberam o seu, ou que venham ainda a obtê-lo, desejo que o usem bem no futuro, que o transformem em chave de acesso e sucesso, e, que ele sirva para bem mais do que para aparecer num registo informático do centro de desemprego.
Boa sorte pessoal!

2006/12/04

Bom dia, Ritinha!


Esta é a filhota do João Camilo e da Ana Paula. Não é linda?
Sê bem vinda, Rita. E parabéns aos papás babados, pois claro.

2006/11/28

Para a malta da faixa do meio

Há neste mundo quem não queira saber dos outros para nada e o manifeste nas mais diversas situações. É esse o caso de todos aqueles que conduzem neste País pela faixa do meio quando há 3 faixas de rodagem, sem se importarem se alguém tem que mudar duas vezes de faixa para os poder ultrapassar.
E isto acontece, porque a maioria dos condutores (no restrito universo da minha sondagem) não sabe que existe uma regra no Código da Estrada que manda circular pela direita. E isso é o pior de tudo, por duas razões.
A primeira porque demonstra que a maioria das pessoas que conduzem em Portugal não sabe as regras da condução e, por isso, não devia conduzir. E a segunda, porque mesmo não sabendo que existe essa regra da condução, se esses condutores se preocupassem com o que vão a fazer quando conduzem percebiam que estão a prejudicar os outros e evitavam fazê-lo.
Para toda essa malta da faixa do meio aqui fica alguma informação de serviço público.

Artigo 13.º
Posição de marcha
1 - O trânsito de veículos deve fazer-se pelo lado direito da faixa de rodagem e o mais próximo possível das bermas ou passeios, conservando destes uma distância que permita evitar acidentes.
2 - Quando necessário, pode ser utilizado o lado esquerdo da faixa de rodagem para ultrapassar ou mudar de direcção.
3 - Quem infringir o disposto no n.º 1 é sancionado com coima de (euro) 60 a (euro) 300, salvo o disposto no número seguinte.
4 - Quem circular em sentido oposto ao estabelecido é sancionado com coima de (euro) 250 a (euro) 1250.
Artigo 14.º
Pluralidade de vias de trânsito

1 - Sempre que, no mesmo sentido, sejam possíveis duas ou mais filas de trânsito, este deve fazer-se pela via de trânsito mais à direita, podendo, no entanto, utilizar-se outra se não houver lugar naquela e, bem assim, para ultrapassar ou mudar de direcção.
2 - Dentro das localidades, os condutores devem utilizar a via de trânsito mais conveniente ao seu destino, só lhes sendo permitida a mudança para outra, depois de tomadas as devidas precauções, a fim de mudar de direcção, ultrapassar, parar ou estacionar.
3 - Ao trânsito em rotundas, situadas dentro e fora das localidades, é também aplicável o disposto no número anterior, salvo no que se refere à paragem e estacionamento.
4 - Quem infringir o disposto nos números anteriores é sancionado com coima de (euro) 60 a (euro) 300.

2006/11/07

Spam

Das muitas mensagens de spam que me enchem a caixa de mensagens resolvi abrir uma. O nome da remetente, Anita, sugeria uma ligação à personagem dos livros infantis que, afinal, não se confirmou. No entanto, fiquei verdadeiramente surpreendido com o texto que encontrei no que poderia ser apenas mais uma irritante mensagem de publicidade não solicitada.
A linguagem utilizada, gramaticalmente bem estruturada, mostrava que não se tratava de uma qualquer mensagem de spam. As sugestões subliminares a determinadas características dos órgãos sexuais combinavam com a utilização de termos próprios do mundo laboral, numa construção publicitária que ia por vezes direita ao assunto: “As senhoras lutarão por uma oportunidade para entrar na sua cama!”
Transcrevo a seguir parte da mensagem em questão porque mudou a minha opinião sobre as mensagens de spam. Afinal há algumas com piada.

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2006/09/12

Carecas, inseguros e confusos

Lisboa, 9 e meia da manhã, algures no percurso da carreira nº 6 da Carris.
Entra no autocarro um indivíduo de idade próxima da metade da esperança média e vida (que isso da meia-idade já não se usa, é feio), vestindo fato e gravata, de óculos grandes meio desalinhados na cara, ostentando um farfalhudo bigode, tão grisalho como os poucos cabelos que ainda lhe nascem ao lado da orelha direita e descansam contrariados por detrás da orelha esquerda.
Antes de entrar já se fazia ouvir aos passageiros dos últimos bancos da dita carreira. Porque isto era uma vergonha, “Eles” róbom uma pessoa todes os dias. Vejam lá agora cu passe válide até 2008 afinal já não serve pa nada, caté teve dir “tirar” outro (sem roubar nada a ninguém, qisto de tirar é como se tira a carta de condução, um curso na universidade ó as férias). E inda lhe pediram mais 5 euros pu passe nôve, que nem é nenhuma fortuna mas sempé dinheiro e se a gente já é róbáda cu que paga pa andar dótócarro e cas greves e não sei quê, eles é que deviam de pagar à genti. E agora mudam os sítios donde os ótócarros passam e ninguém informa, ninguém sabe de nada e a gente é que se amola. Que já tinha saído de dois ótócarros diferentes, hã, já era o terceiro que apanhava - ah pois, o terceiro - e inda ali andava às voltas, com coisas pa fazer, parecia uma bola de ténes. E ninguém qué sabêri! Metoristas, amnestradores, directores, isté tuda mêma corja.
Tudo isto era dito com a maior das veemências e no mais alto volume, como a própria jugular atestava saltando furiosamente do pescoço fora. Na mão esquerda ia uma pasta com uns papéis que tentavam desesperadamente fugir pelos cantos. Apertava com a mão direita o varão do autocarro como se estivesse a estrangular “Eles” (os que róbom a gente e dão cabo diste, os que se governam a eles e não querem saber dozoutres, os que fazem as greves pa róbar a gente), todos os “Eles” deste País. Entretanto, ia convidando os passageiros mais próximos a aderirem ao seu discurso dando-lhes uma simpática cotoveladita ou deixava cair um olho para dentro do decote das passageiras mais novas.
E continuava: porque os culpades d’Isto são Eles. Eles é que se amanham, a Eles e aos amigos e não querem saber do povo pa mai nada. Quando eram os ingleses na Carris, ganhavam grandes ordenados, havia dois homens em cada ótócarro e isto dava lucro. Agora cus meteram cá a Eles, os pertugueses, já isto não funciona, só o que fazem é róbar a gente, quisto é um País datrasados ó ladrões. Ele é que já não tem vinte anos, senão os filhos iam era nascer a Espanha, quisto de se ser português é uma vergonha. Mas um dia inda põe uma bomba em S. Bento quEles vão ver o qué bom pá tosse. Eles candassem dótócarro pa ver o cu Zé Povinho sofre…
No meio de tudo isto lembrei-me de uma história da banda desenhada da Mafalda. Depois de ter ouvido uma conversa em que o Governo surgia como responsável por todas as desgraças, Gui, o irmão da Mafalda, resolve também culpar o Governo pela chuva que entretanto começara a cair.
Ora, tal como o Gui, o senhor do “ótócarro” sabia do que estava a falar porque já tinha ouvido em qualquer lado. “Eles” são os responsáveis por tudo “Isto” e são tão concretos e definidos como outra coisa qualquer. Ele até identificou os “Eles”: são aqueles que nos róbam e que se amanham, a “Eles” e aos amigos, os metoristas, amnestradores, directores, os que fazem as greves e os de S. Bento.
No fundo, no fundo, o que conta é a certeza com que dizemos as coisas. E o senhor do ótócarro disse tudo aquilo com a mesma certeza com que faz a teimosa marrafa todos os dias da direita para a esquerda. A certeza de que nunca ninguém irá descobrir a desorientação que lhe vai na cabeça, seja por causa da careca ou por causa do estado a que “Isto” chegou.
O que é “Isto” fica para uma próxima oportunidade…

2006/09/11

11 de Setembro


Passaram cinco anos desde o evento, ou conjunto deles que, segundo muitos observadores, mudou o Mundo para sempre. O espantoso é que tal afirmação foi proferida ainda no próprio dia, e por tantos outros peritos nos dias seguintes, como se a história não necessitasse de recuo para ser feita. Senti-me estúpido. Como é que eu não vira que o curso da história tinha mudado. E não era pouco, porque nos anunciaram uma mudança tão radical como aquela provocada por eventos históricos que marcam a mudança de épocas: a queda do Império romano do Ocidente, a chegada de Colombo às Américas ou a invenção de Gutenberg, etc.
Cinco anos depois, confesso que me mantenho burro. Não entendo, nunca entendi, onde está a mudança preconizada, para além das naturais mudanças que o tempo arrasta e as circunstâncias provocam.
Antes pelo contrário, ainda há certamente muito por explicar sobre o 11 de Setembro. Foi um dia terrível como tantos outros. Morreram em Nova Iorque, nesse dia, cerca de 3 mil pessoas, tantas ou menos das que provavelmente morrerão hoje ou ontem, algures, talvez no Iraque, talvez noutro Líbano. Dois dias insignificantes. Sê-lo-ão?

2006/09/07

É isto a Festa do Avante!

O António é um velho militante, rijo e de poucas falas como transmontano que é. Tem aquele cenho fechado quem já passou muito, pesa-lhe o andar, mas nunca pára que parar é morrer. Todos os anos, é vê-lo ali a trabalhar no bar de apoio ao estaleiro, na implantação da Festa. Anda o mais depressa que pode (às vezes faz questão de nos lembrar isso mesmo se estamos com mais pressa), mais uma cerveja, mais uma sandes, toma lá o café, camarada.
Nos outros meses do ano, é raro ver o António. Mas no Verão, nunca falha. Não me lembro de nenhuma Festa em que ele não estivesse lá, a cumprir a sua tarefa – que tal como todas as outras, é fundamental e tem que ser feita. Ao fim e ao cabo, o António (e tantos outros camaradas) é, como dizia o Brecht, um dos indispensáveis. É um daqueles (muitos, muitos mil) camaradas que fazem da Festa aquilo que ela é: não apenas a maior realização político-cultural do país, mas acima de tudo uma “cidade de três dias” em que a Amizade, a Generosidade, o Sonho, e tanta tanta vontade de Futuro tomam forma de madeira, de ferro, de pano e de tinta.
Costumamos dizer que a melhor parte da Festa é construí-la. Alguns de nós dizem até que “esta já está, agora venha outra”, quando os portões são abertos nas boas vindas aos visitantes que enchem a Atalaia de cor, de curiosidade, de alegria, de festa. Antes disso, durante aquelas semanas em que a Festa do Avante foi ganhando forma, ali apareceram estudantes, metalúrgicos, engenheiros, secretárias. E jovens, sempre. Muitos. A viver o poema da Maria Rosa Colaço: Ali chegavam para aprender / o sonho, a vida, a poesia.
À tarde, depois da jornada, lá nos juntávamos ao pé do António. Tantas vezes cansados, com as marcas do trabalho a pesar nos ombros, lá vinha uma cerveja, outro camarada que chegava, mais dois dedos de conversa sobre aqueles criminosos que continuam a matar lá no Líbano. Organizaram-se debates, sobre a Palestina, sobre Música de Intervenção. O Jerónimo esteve lá e discursou para saudar aquela gente toda que tinha saído de casa num Sábado de tanto sol, para ir ali trabalhar sem receber um tostão. E depois lá foi outra vez para o terreno ajudar na construção, como os outros.
Dizer que foram mais de 7700 participações durante as jornadas de trabalho pode correr o risco de não dar a ideia completa. Mas a verdade é que esta Festa, grande, cheia, única, só é assim porque é este Partido que a organiza e constrói. Porque são estes os ideais, os valores, os sentimentos que ali vivem. Porque é ali que ganha ainda mais sentido a frase de um camarada meu, que diz que “o Partido é a casa grande da Amizade”.
À noite, já com não sei quantos mil a percorrerem a Festa, a vivê-la e a fazê-la, actuava no Palco 25 de Abril o Coro Lopes Graça, numa homenagem ao Maestro no centenário do seu nascimento. Lá na fila de trás, de traje a rigor com laço ao pescoço e tudo, ali estava (para surpresa de muitos de nós) o António, cantando o Acordai e as outras Heróicas, num concerto memorável. À saída do Palco, já depois do espectáculo, fui dar com ele entre a Celeste Amorim, o Caeiro, o Valverde, grandes vozes que cantam o Sonho e a Luta.
Naquele abraço camarada de quem festeja a própria festa, disse ao António que tinha sido um grande espectáculo. Ele, que sorria com um olhar que nunca lhe havia visto, respondeu-me “é uma grande festa. Mais ninguém conseguia fazer isto. E não hão-de acabar com ela, eles bem queriam…”.
O António tem toda a razão.

2006/07/29

Férias, as merecidas


O «Paredes Meias» nada tem que ver com isso. Mas, em todo o caso, aqui fica registado que, cá por mim, fecharei o “estabelecimento” para descanso físico e balanço espiritual.

Fazer Férias será…
parar, andando no tempo certo
dormir até fartar
ler o que mais apetecer
ver só o telejornal
passar a vista por um só jornal
pensar o mundo que nos rodeia
esquecer por momentos que Sócrates nos governa mal
conter a raiva contida
respirar fundo, bem fundo
fazer ginástica e demais movimentos
saborear uma valente mariscada
matar a sede
saciar tudo o mais que não é sede
observar o largo Oceano
pousar os olhos no infinito belo
chapinhar na água
sentir a areia entre os dedos dos pés
cheirar a maresia
desfrutar a praia
apanhar ar fresco numa noite quente
ter saudades de alguém
olhar-me
mirar os outros
lembrar rostos
fechar os olhos
abrir o espírito
rever em memória bons momentos vividos
voar num veleiro
velejar num aeroplano
soltar gargalhadas
brincar na Terra do Nunca
sonhar como uma criança
espevitar todos os sentidos

reflectir, reflectir e mais reflectir
apanhar balanço, para
dar um novo passo, numa nova vida… e
desacelerar o tempo, para
verificar que afinal já não restará qualquer tempo, para descanso.

Até um dia destes!

2006/07/28

Salvé, 28 de Julho


Sete anos. Sete lindas e preenchidas Primaveras de uma pequena, simpática, envolvente e destemida leoa.
Parabéns a ela.
A vida será tua, Princesa.
O Mundo ama-te, se o Mundo amares.

2006/07/27

Terrorismo a coberto da hipocrisia internacional


Os injustificados e desproporcionados meios e ataques militares de Israel contra o Líbano merecem mais do que uma veemente condenação.
Impera a hipocrisia e a agressividade desregrada. Eis o terrorismo em toda a sua pujança.
Assim não pode a Humanidade progredir. Israel é símbolo de retrocesso civilizacional e de Nação arredada do convívio democrático e pacífico entre os Povos.
Estou de luto.
É preciso fazer ouvir a voz do protesto.

2006/07/26

Os opostos atraem-se



Ela, “toda pipi”, bem parecida, bela, de gesto delicado, porte altivo, vestindo simples, prático mas distinto, projectando movimentos sensuais, toda ela feminina, de fazer inveja a todas as mulheres do seu círculo. Um vulto, envolto em promissor mistério, transbordando frescura.
Ele, tosco, mal entrajado, grosso, de barba rija – nem todos podem, com vantagem sensual, adornar-se de uma barba de três dias – vulgar, mas talvez convencido, porte sorrateiro, talvez fuinha, em nada se distinguindo da manada de homens que dia após dia rondam e quase farejam o sexo oposto. Uma simples e indistinta figura, denunciando lugares comuns.

Mas andavam perdidos, quanto perdidas podem andar duas pessoas que se encontram na vida, enlaçados um no outro, na esperança de qualquer coisa que só a imaginação concebe, à procura de não se sabe quê. Era uma relação desequilibrada, mas proveitosa. Julgavam-na reservada e só sua, mas estava ali mesmo, ao olhar de todos, na Praça Pública. Dava nas vistas tamanho contraste.

Ele, no seu papel másculo, nem se dando conta que a destruía, que lhe arrancava anos de encantamento, lhe matava a felicidade partilhada e genuína. Egoísta, procurava afinal só mais sexo. Não queria perdê-la.
Ela, cega no seu logro, pensando que havia atingido o cume, ou o alvor do amor, a sublimidade da entrega física, da identificação espiritual, ou aquele estádio de entrega perfeita que só o amor construído no altruísmo alcança. Enganada, repetia para si que aquele enlevo seria bem mais do que só sexo. Não era capaz de o perder.

Pensando que tinha encontrado o seu Príncipe, saíra-lhe afinal um sapo ao caminho.
Ignorava que quando o sapo é Príncipe, este se revela logo ao primeiro beijo.
A vida prega-nos partidas, sempre que queremos e nelas cremos.

2006/07/25

Bocage nunca morre

Bocage nunca morre. O seu poema
Nasceu para viver eternamente
Num astro de sarcasmos, que desenha
Sublimidade a rir de toda a gente.

Bocage nunca morre. A sua avena
Ressoa nas auroras do presente,
Como clarins de guerra numa arena
Como um toureiro em festa permanente.

Bocage nunca morre. A sua lira
É leve como o ar que se respira
No alto mar azul da solidão

Bocage nunca morre. É como um sonho
Num ramo de oliveiras, onde ponho
Um homem de suprema dimensão.


25 de Maio de 2006

(Soneto da autoria de José Corceiro)

2006/07/24

Planeta Feliz



Um Estado-Ilha da Oceânia, no Pacífico, Vanuatu, ocupa o primeiro lugar no ranking dos países com vida feliz.
Uma fórmula inovadora que abrange parâmetros como a satisfação de vida, a esperança de vida e o impacto ecológico, permite o cálculo do Índice Planeta Feliz que deixa os países industrializados do Ocidente afundados.

No total de 178 países analisados, Portugal ocupa o 136º lugar e a Áustria, em 61º lugar, é o primeiro país da União Europeia na lista. Timor-Leste (48º), Cabo Verde (46º) e São Tomé e Príncipe (22º) deixam-nos a uma desconfortável distância. Ainda assim, ficamos à frente da Austrália (139º lugar), dos EUA (150º), e do Kuwait (159º), entre outros.
Sabe bem perceber que a felicidade conta.

2006/07/21

Pegada lunar



A pegada do homem na Lua faz hoje 37 anos.
Foi em 21 de Julho de 1969 (22,56 hs, de 20 de Julho, em Houston).

Um acontecimento extraordinário, vivido, em directo e ao vivo, nesse quente dia de Verão em que decidimos dormir na varanda do casarão, para espantar o calor e podermos observar a Lua, no firmamento. Claro que nada víamos. Mas imaginámos, quase sentimos o cheiro daquele “relvado” lunar, no Mar da Tranquilidade, onde Niel Armstrong deixou a marca das suas botas. Espevitámos o olhar para tentar descobrir, em contraluz, o módulo de comando em voo, recortado no disco lunar iluminado. Empolgava-nos o que naquele enorme ponto de luz estaria a acontecer. O módulo Eagle poisado na superfície, dois homens lá dentro.

Pressentimos a grandeza do momento. O tamanho do passo. A Lua estava afinal ali tão perto, ao alcance do nosso olhar, ou de um foguetão da NASA.
Naquela noite sonhei com a Lua! No Mar da Tranquilidade. Só, com toda a Humanidade.

2006/07/20

Obrigado? Diga lá obrigada se faz favor!


Tal como grato, reconhecido e agradecido comportam o género feminino grata, reconhecida e agradecida, assim também um obrigado, dito por um senhor ou rapaz, corresponde, no feminino, a um obrigada, dito por uma senhora ou rapariga. Custa assim tanto?
Baralhando os termos, como frequentemente se ouve, não poderemos explicar-nos aos estrangeiros/turistas que, quando nos visitam, perguntam como se diz, em português, na nossa língua, o seu merci, thanks, grazie, danke, etc.
Como será possível que não saibamos, na nossa própria língua, como se diz aquela pequena palavra que quase todos sabem em várias línguas ao mesmo tempo? Ou será que sabemos o trivial dos outros, mas não sabemos o essencial do que é nosso?
Ainda por cima, o nosso obrigado, ou obrigada, estará, segundo alguns, na origem etimológica do mesmo termo em japonês. Não vale a pena maltratar uma palavra com tamanho alcance.
Por favor, senhoras, de todo o Mundo e arredores, respondam sempre com um obrigada, que a língua agradece (sem prejuízo de poderem obviamente dizer obrigado quando usado como interjeição).

2006/07/19

I FEEL GOOD

Whoa-oa-oa! I feel good, I knew that I would, now
I feel good, I knew that I would, now
So good, so good, I got you

Whoa! I feel nice, like sugar and spice
I feel nice, like sugar and spice
So nice, so nice, I got you

(…)

2006/07/12

Estado da Nação

Realiza-se hoje mais um debate de política geral sobre o estado da Nação. Parece ser uma espécie de momento solene para o Primeiro-Ministro se explicar e os deputados da oposição lhe pedirem contas da governação. Acho bem!

Contudo, o nome da coisa sugere uma avaliação mais ponderada e sobretudo mais exigente sobre a Nação e em particular o seu estado. Isso não faz o nosso PM. Como também não atinjo tal propósito, melhor será referir-me ao meu estado de Nação, ou, ao estado da minha Nação, ou à Nação do meu estado, como se queira.

O meu estado hoje deverá ser líquido, já foi vaporoso e consegui ontem derreter o estado sólido no fundo de um generoso copo de whisky.
Não chega? Vou já tentar de novo.

Dizer que tenho fome, sono e me dói a cabeça seria, para esta Nação, um estado calamitoso para não dizer quase comatoso. Era aliás exagerar as coisas.
Como aldrabar seria afirmar que por cá raia o sol, numa praia tropical, ao lado da melhor companhia, bem perto do mar azul-turquesa e de uma bebida gelada.
Então dizer que não me apetece nada e que quero que se danem todos, seria antes um estado demissionário e desinteressado. Ou estado de cansaço.
Dizer que tenho sede, muita sede, sede acumulada, já parece mais perto da realidade. Talvez a praia tropical ainda apareça à porta da minha Nação. E a companhia lá esteja, à espera, na temperatura certa.
Aí o estado da Nação já será mais que cor-de-rosa, será rosa-tropical.

E assim se enganam os incautos. Com vãs promessas.

2006/07/07

Conversa de xadrez (3) – o sacrifício

Enquanto isto, a cavalaria de ambos os lados toma posições estratégicas sempre apoiada pelos infatigáveis peões. A tal ponto, que a dama branca se sente ameaçada por um cavaleiro preto que se posiciona em f-6. Ela antecipara este momento. Inicia-se então o assalto ao reduto real contrário. Da maneira mais nobre e esplendorosa.
Na linha mais dianteira da frente de combate a intrépida dama de branco inicia o seu ritual. Vai sacrificar-se, por amor ao seu imerecido Rei. Altiva, destemida, de semblante enobrecido, avança um passo firme e decidido para a garganta do inimigo, enfrentando-o no seu fortim de fogo e ferro. Ela dá-se, como quem só dá, sem nada receber.
– Alto aí – riposta o rei adversário – eu não convidei sua Alteza para o baile.
Era tarde demais. Para fazer a corte à rainha branca foi escalonado um singelo peão, em f-7, que sorrindo, a contragosto, lá foi posicionar-se no lugar do sacrifício, em g-6. A dama sai de cena, majestosa e bela. O sacrifício da dama branca fora um golpe violento. Nada mais havia a fazer. Fora afinal um presente envenenado.
Ouvem-se ao longe as fanfarras das brancas hostes que, hilariantes pela vitória pré-anunciada, fazem de novo avançar a cavalaria. Nisto, o potente alvo lusitano salta elegantemente para e-7, e, de uma assentada, mortífero, esmaga o esforçado bispo preto, instala-se em posição de combate dominante, coloca o seu prelado na linha da excomunhão real e saúda as hostes, em êxtase, com um dramático grito de guerra.
Échec au roi! – soou em todo o campo de batalha, em Elvis.
Fez-se silêncio sepulcral. Depois, apenas um rumor do soberano.
– O baile findou! Permita-se-me apenas mais um pulinho real.
Sem ouvir resposta, deu-o, para a casa da torre sineira, a única ainda vaga.
Cheque mate ao rei preto! – gritou, de novo, o confiante cavaleiro andante, desta feita em posição definitiva, em g-6, vindo de e-7.
– Ui! Gemeu o Rei, ferido de morte.

Sua majestade tombara, honradamente, mas sem glória, após treze assaltos.
Como por vezes acontece na vida, venceu a grosseria sobre a delicadeza.
As pretas saem de cena, com o seu Rei morto, destroçadas.
As brancas rejubilam e nem choram o sacrifício da sua heroína dama.
O roque é, desde então, recordado com saudade.
O branco, já não é a cor da paz.

Fim

2006/07/06

Conversa de xadrez (2) – a dança do roque

Na trincheira branca ouve-se um crescente murmúrio, seguido de gélidos e estridentes sons metálicos. Toca de novo a fanfarra. Levantam-se os estandartes. Vai haver movimento generoso no campo de batalha. E houve mesmo.
– É a minha vez de avançar – confirma a dama, toda de branco, que acenando ao seu impávido e imperturbável rei, se desloca velozmente, com todo o seu séquito, quatro linhas adiante para a casa h-5.
– Vai em paz nobre rainha. Que o nosso sacrifício seja a tua salvação.
Apre! Certos soberanos, homens de barba rija, sempre viram a história às avessas.

As pretas defendem-se como podem, mandando recuar o cavalinho que havia aniquilado o peão de brega, para agora ocupar uma posição anticlerical. O bispo contrário defende-se, mas não dá a face, desliza antes um passo trás. A posição f-7, bem perto do rei negro está sob pressão. Ele sente-a.
– Avance uma casa na diagonal – ordena o rei preto, em tom aborrecido, ao sempre obediente prelado que o ladeia.
– Ande lá! Está a atrapalhar-me pontífice. Não vê?
– Sua Majestade real tenha cuidado com as suas saídas sob o manto da escuridão. O pecado espreita-nos – adverte o diligente bispo.
– Deixe-se disso homem. Quero apenas dançar o roque, mas é com a fria e altaneira torre. Vossa alteza a Rainha dá-me licença?
– Por quem sois, meu nobre Rei, tenho plena confiança em vós – responde aquela que fora educada pelas melhores aias da corte austríaca em quatro línguas estrangeiras.
As brancas, corteses, fazem o lance seguro e premonitório, dando assim oportunidade para o adversário iniciar a sua dança real. O Rei preto move-se, enfim, com a sua torre, aos acordes do roque, bem ritmado.
No outro extremo do tabuleiro lamenta-se invejoso o rei branco.
– Onde estais minha rainha? Porque me abandonáreis ingrata? Estou só na corte.
Ah! Eis que ele finalmente nota a falta que as damas fazem no Mundo.

(continua)

2006/07/05

Conversa de xadrez (1) – o ataque ao roque

A partida começa, não sem antes os contendores se medirem, de alto a baixo, ao longo de todo aquele imenso campo de Marte composto de 64 minúsculas casas claras e escuras.
Surge no alvor o primeiro ruído de metais. Era o nervoso próprio da batalha iminente.
O alvo peão avança duas casas para e-4. A resposta preta vem rápida, para e-5, encostando a peitaça à armadura do encorpado e-4.
– Quieto aí ó branco que já não arredas pé – vocifera o preto bem alto lá para diante em gesto guerreiro.
– Isto está a ficar tudo igual – ouve-se na trincheira dos peões. O soldado raso é sempre o primeiro a tombar.
A contenda continua. Com a cavalaria.
Ao cavalo em c-3, respondem as negras colocando o seu na quadrícula f-6.
– Monótono – boceja a dama de preto. Podem servir-me um Xerez?
Alto!
As alvas posicionam agora todo o seu credo religioso, avançando o estratégico bispo, na diagonal, de f-1 para c-4. E logo o cavalo preto ocupa e-4 ao som vibrante da armadura do tal peão de brega que cai inanimado.
Alguém se lembra e exclama:
– Está em marcha um violento ataque ao roque.
Era a batalha de Elvis.
(continua)

2006/06/30

Agarrar o ontem


(…)
Este momento deveria ser de alegria. Deveria saber a vitória. Como atingir um cume, um pico, uma meta, um desejado objectivo.
Deveria, e, sem deixar de o ser, não consigo senti-lo como tal. Há neste instante qualquer coisa que nele falta. Falta algo que o torna não invulgar mas vulgar, não diferente de tantos outros momentos anteriores em que nada de especial aconteceu. Claro, do que se trata é apenas de um momento ou instante em que algo de supostamente novo aconteceu, qualitativamente novo. Mas será que aconteceu mesmo? Aconteceu o que mais eu queria que acontecesse? O que aconteceu é assim tão relevante? Esse instante contém algo de marcante? Algo que o tornou tão diferente de outros momentos já vividos?
Não lhe consigo sentir o alcance.
Nada disto faz sentido.
(…)
29.6.2006

2006/06/26

Calar o sentir

Há situações em que não dizemos o que sentimos.
Mas sentimos, tão intensamente como quem diz o que sente.
Só não somos capazes de dar conta do sentir, naquele instante, naquela curva da vida.
Mas sentimos, tão ardentemente que não conseguimos expressar o que expressar queríamos.
Só não somos capazes de entender bem o que sentimos, e como o sentimos.
Nem sabemos medir as consequências do que sentimos. O presente tolhe-nos o futuro quando temos receio dele.
Por isso, calamos o sentir.
Assim, não nos damos a sentir.
E, calados, calamos a vida que nos anima.

2006/06/23

Sentir e dar


É tão bom sentir. Mas melhor ainda é dizer o que se sente.
É como oferecer um presente.
Sabe bem dar presentes a quem se sabe que sente o que se dá.
Por isso se sente o que se diz.
Por isso dizemos o que sentimos.
É bom sentir.
Faz-nos viver!

2006/06/20

Caças e Patrulhões a menos

Para que conste, o Ministro da Defesa confirmou hoje na Comissão Parlamentar de Defesa Nacional (na AR) a venda de 12 caças F-16, ainda encaixotados, que Portugal havia comprado aos EUA. Assim se atalha, e bem, uma aquisição mal dimensionada, operada em 2001, que apontava para uma desnecessária previsão de custos final de cerca de 60 milhões de contos. Em vez de duas esquadras de 20 caças F-16 cada, passaremos a ter duas esquadras de apenas 14 aparelhos (28 aviões). Boa malha no desperdício. Nem havia pilotos para eles.

O ministro confirmou ainda, a sua falta de empenhamento, e do governo, no necessário programa de construção dos Patrulhões nos estaleiros de Viana do Castelo. Por omissão de informação que lhe fora solicitada e pelos dados que figuram no anexo à Lei de Programação Militar, conclui-se que este programa se arrastada no tempo e não surge como prioridade do Governo. É pena, porque disso precisava o país oceânico que somos.

2006/06/08

Caças à venda em caixotes

O ministro da defesa anunciou que o Estado vai vender, ainda encaixotados, 12 dos caças F-16 que o Governo Guterres tinha comprado aos Estados Unidos.
Faz bem. Não tinhamos dinheiro para a sua manutenção, nem para o seu upgrade, nem sequer havia militares com formação para os pilotar. Se já a 1ª esquadra de caças se sustenta a custo, para que servia uma segunda esquadra de F-16? Cagança militar? Para nada, viu-se agora.
Mas este Governo também deve ir pelo mesmo trilho. Os 8oo milhões de euros para os dois submarinos também são mesmo necessários? Ou precisamos antes de equipamento naval adequado á vigilância da nossa Zona Económica Exclusiva?
Mais desperdício!? Apre!

2006/06/07

Casino Mayer (2)

O «Público» titula hoje: «Câmara abandona projecto de Frank Gehry para o Parque Mayer».
Assim:
1. Se era para lá edificar um elefante branco, então aplaudo o retrocesso ora tornado possível. Mas que recuem mesmo.
(veja-se o post de 20 de Abril)
2. Registo que esta triste "santanada", que dura há 3 anos, já custou ao município lisboeta cerca de 2,5 milhões de euros. Eis o preço da trapalhada de Santana Lopes. Basta de desperdício.
3. Que se dê ao Parque Mayer o que sempre foi, desde 1922: diversão lisboeta.

2006/06/02

Veneza… um dia…


Veneza é linda. Inspira, provoca e alimenta paixões. Não por lá ter vivido Casanova, mas porque lá aportam muitos corações, abertos e sedentos de amor, carentes de aventuras partilhadas. Embora sendo desconhecidos, têm destinatários determinados ou, tão só, estão abertos à vida, despertos para ela. Merecem-na por isso.

Veneza é um poema, de sílabas por descobrir, de rimas surpreendentes, de sublimes palavras, com inesperados significados e profundos sentidos. Tem uma métrica perfeita, rendilhada em séculos de vivência e arte.

Veneza é uma melodia, trauteada em pedras de calçada, dedilhada ao som dos canais, feita de meios tons e claves de sol que a adornam desde a Piazza San Marco até à Ponte di Rialto, marcada pelo vigoroso ritmo que em solfejo nos arrebata os sentidos. Tem uma musicalidade límpida e harmoniosa.

Tenho saudade dela. Como desejo de novo aportar Veneza, essa, que o Mundo conhece, ou qualquer outra, que lhe faça as vezes, com vantagem.

Um dia… Com ela.

2006/05/31

Última aula


«Prima non datur, et ultima dispensatur».
Ou seja, a primeira [aula] não se dá e a última dispensa-se [não se recebe]. A este famoso brocardo latino das lides académicas, não se aplicou o dia de hoje. Por razões de excepcionalidade.

Foi o dia da última aula do curso. Curso, em parte, arrancado a ferros, mas feito com perseverança, emoções, conquistas, dissabores e paixões. Foi a última aula deste ciclo, não a última lição de vida.

Para muitas outras pessoas, a quem emocional e intelectualmente me liguei, também foi a última aula. Partilhámo-la, como muitas outras coisas boas partilhámos. Algo se desprenderá, inexoravelmente, a partir de hoje. Amanhã seremos diferentes.

Ficar-nos-á a lição para a vida, aquela que nunca se dispensa.

2006/05/30

Cem por cento!

Ontem vivi um inexistente videoclip do Palma: eram sete da tarde e estava-se tudo a passar. Mil pessoas acotovelavam-se no terminal. Aqui e além, o inefável reaça com a inefável conversa do eles-não-querem-é-trabalhar. Por toda a parte, gente espantada, conformada, pensei que sempre houvesse um ou outro barco a funcionar, como das outras vezes. Mas nada. Nem um. Tudo parado. Até às sete e meia só restava esperar.
No meio disto tudo, um grupo de passageiros que se tinha encontrado por acaso vivia o transtorno como se de uma festa se tratasse. Sorrisos estampados no rosto, que se lixasse o que havia para fazer, isso ficava para depois. Grande greve! Vai ser assim a semana toda. A Maria pôs o dedo na ferida: quem faz uma greve destas é porque não tem nada a perder (não lhe perguntei se estava a lembrar-se do Manifesto). Já terminado o período de greve, a bordo do Cacilheiro, gente que nunca tínhamos visto concordava connosco: eles realmente ganham mal, é uma vida sacrificada.
De nós todos, o melhor foi o Arnaldo. Sorridente, parado no caos do terminal, despediu-se de nós: vão vocês, eu fico aqui a apertar com estes reaças. Queriam fura-greves, não?
Bem nos tinham dito aqueles marinheiros: isto para o fim do mês vai dar que falar. Até sexta-feira, a Transtejo está em Greve por melhores salários. A adesão foi de 100% no primeiro dia. Toda a frota parou. A luta é que continua.
É sempre bom encontrar os amigos. Melhor ainda quando é numa greve assim. Mesmo que seja na óptica do utilizador.

2006/05/25

A Cidade dos Vilecos (7)



















Os Vilecos
sabem cantar e não têm vergonha de amar.

Fim

2006/05/24

Futebol e Função Pública

Quando ouvimos um jogador de futebol justificar a derrota sofrida pela sua equipa aceitamos com naturalidade as explicações que nos são dadas. Ainda que nem sempre essas explicações sejam dadas no uso correcto da Língua Portuguesa compreendemos o esforço e a entrega daqueles profissionais, a sua dedicação ao clube que representam e à actividade que praticam e aceitamos com naturalidade a sua impotência face aos motivos de força maior que quase sempre estão na origem dos seus desaires.
Raramente temos esta atitude para com qualquer outro trabalhador ou funcionário. Especialmente se se tratar de algum que pertença àquelas classes repetidamente caracterizadas como preguiçosas, laxistas ou parasitas, como os funcionários públicos.
Imaginemos qual seria a nossa reacção se nos deparássemos com uma conferência de imprensa convocada por um enfermeiro, um professor, um funcionário das finanças, de um tribunal ou de qualquer outra repartição pública para dizer o seguinte:

Jornalista – Não correu bem isto hoje?
Funcionário Público – Pois, infelizmente não fomos capazes de atingir os nossos objectivos. Sabíamos de antemão que ia ser difícil, fizemos tudo o que pudemos, trabalhámos muito, mas infelizmente confirmaram-se os nossos receios e não fomos capazes de superar os obstáculos.
Jornalista – Mas acha que falhou alguma coisa na estratégia que tinham preparado para este desafio?
Funcionário Público – Não, não. Ao longo da semana preparámos a estratégia para este desafio em função dos obstáculos que já sabíamos que iríamos encontrar. O problema é que não tivemos a sorte do nosso lado e quando assim é torna-se tudo mais difícil.
Jornalista – Apesar do desaire sofrido faz portanto uma avaliação positiva, é isso?
Funcionário Público – Sim, acho que no fim de contas fizemos um bom trabalho. Cumprimos as orientações que tínhamos, estivemos muito perto de atingir os nossos objectivos mas depois, já muito perto do final, acabámos por ceder.
Jornalista – Acha que os assobios que se ouviram das bancadas influenciaram o vosso desempenho?
Funcionário Público – Acabam sempre por influenciar. Quando aqueles que nos deviam apoiar são os primeiros a deitarem-nos a baixo nas alturas em que mais precisamos de apoio, é óbvio que o nosso trabalho fica ainda mais difícil. Espero que no futuro tenhamos melhores resultados para que possamos dar alegrias a todos esses e mostrar-lhes que estão errados quando nos criticam.
Jornalista – Acha portanto que este mau momento não é irreversível?
Funcionário Público – Não, tenho grande confiança neste colectivo, somos um grupo muito unido e saímos daqui de cabeça erguida. Estou certo de que no futuro vamos conseguir melhores resultados e de que vamos chegar ao fim orgulhosos do nosso trabalho. Desde que nos dêem as condições adequadas ao nível de competição em que nos encontramos estou certo de que conseguiremos atingir os objectivos a que nos propusemos.

Imagine-se o que seria termos o mesmo nível de compreensão para com estes trabalhadores que temos para com os jogadores de futebol. Seríamos mais exigentes para com os jogadores de futebol que perdem jogos e campeonatos apesar de ganharem milhões e terem todas as condições de trabalho ou compreenderíamos melhor o trabalho dos funcionários públicos que ganham muito menos e muitas vezes não têm condições para fazerem o seu trabalho? Certo, certo é que seríamos de certeza mais justos sem os preconceitos que hoje mantemos…

2006/05/23

Vergonha vs derrota


Você é a cara da vergonha – acusa Carrilho.
Você é a cara da derrota – responde Ricardo Costa.

Foi com este pouco esclarecedor diálogo que, já noite dentro, terminou o debate no “Prós e Contras” acerca do livro de José Maria Carrilho.

Na verdade, devo em parte penitenciar-me do post do passado dia 12. O tiro no pé dado por Carrilho continua lá. O que Carrilho consegue, em todo o caso, por boas ou más razões, foi abrir um debate em torno da seriedade da nossa comunicação social, dos seus comportamentos e critérios pouco próximos da recomendável ética profissional. Feito notável. Porque este debate é útil, é necessário e é urgente que se faça.

O debate de ontem não chegou sequer como aperitivo porque enevoado com a figura de Carrilho e o seu livro, estilo mata dois coelhos.

Ricardo Costa – desculpa mas é verdade – saiu-se bem mal, e, em vez de defender verticalidade deontológica argumentou contra Carrilho como se de um debate político se tratasse. Como se estivesse a concorrer contra Carrilho para qualquer coisa. Ricardo Costa mais parecia o intratável e sobranceiro Rangel dos loucos anos SIC.

Emídio Rangel apareceu travestido de anjo. Parecia que nunca tinha andado naquela roda do contra-poder. Como se tivesse descido agora à Terra e não soubesse como se urde a teia comunicacional. Pôs o dedo na ferida, certo, só que para ser credível tem ainda que suar as estopinhas.

O debate que prossiga. Bem dele precisamos todos.

2006/05/22

A Cidade dos Vilecos (6)




...e perseguem tudo o que invejam!

2006/05/19

A Cidade dos Vilecos (5)







«invejar as canções dos Vilecos»!?

2006/05/18

Ainda o «critério jornalístico»


“O homem mordeu no cão”! Eis o paradigma da notícia. Aos jornalistas em formação, esta frase é-lhes repetida até à exaustão. Até aprenderem o seu verdadeiro significado prático. É mesmo um guia de conduta para o futuro.
Porque que é que quando “o cão mordeu no homem”, não é notícia?
O paradigma da notícia é um dogma?
O critério jornalístico assenta numa verdade absoluta?
A notícia é um texto inatacável?
Há em democracia redutos intocáveis?

2006/05/17

Avião no Pentágono?

Versão oficial, mundial e exaustivamente repetida: o voo 77, da American Airlines, despenhou-se, às 9,37 horas locais, do dia 11 de Setembro de 2001, contra o Pentágono.
Esta versão, que todos conhecemos, foi desde bem cedo envolta em interrogações e dúvidas, com fundamento em evidentes incongruências. Criou-se a chamada teoria da conspiração, mais uma, daquelas que os americanos tanto gostam. Em 2002, o francês Thierry Meyssan publicou um livro onde garante, após investigação jornalística, que o atentado de 2oo1, contra o Pentágono, não terá passado de uma encenação de um influente grupo da indústria militar americana. Com efeito, vídeos que abundantemente circularam na net nunca goraram revelar o avião “fantasma”.
Agora temos dois vídeos oficiais que a associação “Judicial Watch” arrancou ao Departamento de Justiça dos EU.
Resultado: as imagens captadas por duas câmaras de vigilância mostram uma explosão no edifício do Pentágono. Isso já sabemos. Só não mostram o que todos ambicionam ver: Não se vê qualquer avião a embater no Pentágono. Uau!

(quando puderem e deixarem, visitem o site: http://www.judicialwatch.org/)

A Cidade dos Vilecos (4)





...cada um(a) dá à cidade o nome que quer ...

2006/05/16

O Homem novo

"Paralelamente a esse processo, uma mudança na personalidade humana e uma alteração do próprio homem devem inevitavelmente acontecer. Esta alteração tem três raízes básicas. A primeira delas consiste no próprio facto da destruição das formas capitalistas de organização e produção e das formas de vida social e espiritual que a partir daí irão surgir. Juntamente com a destruição da ordem capitalista, todas as forças que oprimem o Homem e que o mantêm escravizado pelas máquinas e que interferem com o seu livre desenvolvimento também desaparecerão e serão destruídas. Juntamente com a libertação dos muitos milhões de seres humanos da opressão, virá a libertação da personalidade humana das correntes que restringem o seu desenvolvimento. Esta é a primeira fonte—a libertação do Homem.
A segunda fonte de qual emerge a alteração do homem reside no facto de que, ao mesmo tempo em que as velhas correntes desaparecem, o enorme potencial positivo presente na indústria de grande escala, o já crescente poder dos homens sobre a natureza, será libertado e tornado operativo. Todas as características discutidas acima, das quais o exemplo mais notório é a forma completamente nova de criar um futuro baseado na combinação de trabalho físico e intelectual, perderão o seu carácter dualista e mudarão o curso da sua influência de um modo fundamental. Considerando que anteriormente suas acções foram dirigidas contra as pessoas, agora elas começam a trabalhar por causa delas. Do papel de obstáculos que desempenharam outrora, elas transformam-se em forças poderosas de promoção do desenvolvimento da personalidade humana.Finalmente, a terceira fonte que inicia a alteração de homem é a mudança nas próprias relações sociais entre as pessoas. Se as relações entre as pessoas sofrem uma mudança, então juntamente com elas as ideias, padrões de comportamento, exigências e gostos também mudarão. Como foi averiguado através da pesquisa psicológica, a personalidade humana é formada basicamente pela influência das relações sociais, i.e., o sistema do qual o indivíduo é apenas uma parte desde a infância mais tenra. ‘Minha relação para com meu ambiente’, diz Marx, ‘é minha consciência’. Uma mudança fundamental do sistema global destas relações, das quais o homem é uma parte, também conduzirá inevitavelmente a uma mudança de consciência, uma mudança completa no comportamento do homem."

(Vygotsky, "A transformação socialista do Homem", 1930)

É também por isto que vale a pena!!

2006/05/15

A Cor do Crime


“Freedomland/A Cor do Crime” é um filme triste, mas que vale a pela ver e compreender.
Descreve uma situação dramática e de grande intensidade emocional, num fôlego frenético, desde o primeiro ao último minuto, vivida por uma mulher branca, inserida numa comunidade local negra, em torno da investigação de um crime.
Mostra como complexas podem ser as emoções, individuais e colectivas, e os sentimentos que lhes dão origem, e como esse nosso lado interage com a percepção que temos da sociedade.
Revela como o cliché racista também nos conforma, levando, por vezes, a atitudes que racionalmente não admitiríamos como possíveis.
Dá exemplo do desespero a que pode conduzir a carência prolongada de afectos e como deles precisamos para viver.
Valeu a pena!

2006/05/12

«Critério jornalístico»


O que é isso do «critério jornalístico»?

Foi usado de novo agora a propósito do mega deslize de Carrilho.
Gostava de saber.

Os protagonistas do jornalismo fariam bem à sua profissão se conseguissem explicar direitinho em que consistem tais “critérios jornalísticos” que de volta e meia atiram para a frente para tapar a boca aos leigos destas coisas.

Alguém quer contribuir?

As (auto)sevícias de Carrilho


O ex-candidato à Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Maria Carrilho, lançou o livro, “Sob o signo da verdade”, para “explicar” a sua derrota eleitoral. Que enorme tiro no pé. A desfaçatez virou ridículo. Carrilho defende o indefensável e da maneira mais tosca, ainda que possa ter crédito de queixa contra a comunicação social.
A quem voltar a encontrar a cabeça de Carrilho, roga-se que telefone, e lha entregue, por favor.

2006/05/11

A Cidade dos Vilecos (3)


2006/05/10

A Cidade dos Vilecos (2)


Continuação da publicação iniciada dia 6 de Maio:

Também daqui lhes desejamos

Felicidades!

2006/05/09

Amor

O amor não se destina a coleccionadores (as) que, após o sucesso da “caçada”,
ordenam e classificam troféus a serem exibidos aos demais.
O amor acontece, quase sem se perceber bem porquê,
naquelas pessoas que são flexíveis, quer no modo de agir, quer na maneira de pensar.
Porque se dão sem reflectir que o fazem.
Entregam-se sem questionar o outro.

2006/05/08

Parlamento Jovem

Iniciou-se hoje, na sala do Senado da Assembleia da República, a VI sessão parlamentar da “Assembleia na Escola”. Também há anualmente uma iniciativa paralela que envolve as crianças. Nesse dia, lá rumam as crianças a São Bento para brincar aos deputados.
Hoje é o dia dos jovens, mas nem por isso deixam de brincar aos deputados.
Vêm todos aperaltados, mais no resto do que até na indumentária, a darem-se ares de “eleitos”. Brincam aos parlamentos, como se fossem uma mini Assembleia da República.
Aprendem? Sem dúvida! Apenas duvido que aprendam o melhor e da melhor maneira.
Copiam e duplicam tudo: métodos, funcionamento, designações etc. Até se tratam por senhores e senhoras deputados (as). Assumem todos os tiques do que de pior há em tiques parlamentares. Não sei bem se aprendem a democracia ou antes precisamente os maus hábitos e tiques que os “grandes” têm em demasia. Se, algum dia, vierem a ser eleitos, já trazem a escola toda, literalmente.
Como é possível falar depois em afastamento entre governantes e governados se os futuros putativos governantes, em vez de questionar e contestar, como se faz em jovem, assimilam os piores males que precisamente são pedra de toque desse indesejado afastamento.
Nota negativa.

A cidade dos Vilecos


Esta pequena obra brochurada, apareceu e foi distribuída no início dos anos 70 – antes do 25 de Abril – contendo apenas a seguinte menção: «Edição de Pedro Lobo Antunes, Impresso na Fotolitografia F. Guedes – Lisboa».
Embora datada, esta obra tem ainda uma acutilante actualidade, em face dos comportamentos e hábitos hoje induzidos pelas camadas política e socialmente dominantes – os velhos? –, em presença da sufocante globalização, da castrante devoção ao económico de toda a vida social e cultural, do afunilamento a meros pensamentos tolerados, da exasperante promoção da ausência de valores, do empobrecimento das relações inter-pessoais a troco do imediatismo interesseiro, da padronização de comportamentos humanos impostos por uma nova moral, etc.
O predomínio absoluto do critério económico ou economicista, que entretanto invadiu toda a vida da nossa “cidade”, consome-nos ou “mata-nos” aos poucos, enquanto seres serenamente imprevisíveis, criativos e ávidos de vida imaginada. Não nos garante qualidade de vida alguma, nem futuro construído em harmonia de vivências.
Quem me dera hoje poder ser vileco!
Construir a tal cidade.
Vamos ver como eles a imaginavam...

2006/05/05

Paixão (3)


Há quem distinga paixão de encantamento, sendo esta uma espécie “pobre” daquela,
uma paixão não atingida. Esquece-se que a paixão não tem limites.
Encantamento é já paixão. Tudo é enlevo!