2006/09/07

É isto a Festa do Avante!

O António é um velho militante, rijo e de poucas falas como transmontano que é. Tem aquele cenho fechado quem já passou muito, pesa-lhe o andar, mas nunca pára que parar é morrer. Todos os anos, é vê-lo ali a trabalhar no bar de apoio ao estaleiro, na implantação da Festa. Anda o mais depressa que pode (às vezes faz questão de nos lembrar isso mesmo se estamos com mais pressa), mais uma cerveja, mais uma sandes, toma lá o café, camarada.
Nos outros meses do ano, é raro ver o António. Mas no Verão, nunca falha. Não me lembro de nenhuma Festa em que ele não estivesse lá, a cumprir a sua tarefa – que tal como todas as outras, é fundamental e tem que ser feita. Ao fim e ao cabo, o António (e tantos outros camaradas) é, como dizia o Brecht, um dos indispensáveis. É um daqueles (muitos, muitos mil) camaradas que fazem da Festa aquilo que ela é: não apenas a maior realização político-cultural do país, mas acima de tudo uma “cidade de três dias” em que a Amizade, a Generosidade, o Sonho, e tanta tanta vontade de Futuro tomam forma de madeira, de ferro, de pano e de tinta.
Costumamos dizer que a melhor parte da Festa é construí-la. Alguns de nós dizem até que “esta já está, agora venha outra”, quando os portões são abertos nas boas vindas aos visitantes que enchem a Atalaia de cor, de curiosidade, de alegria, de festa. Antes disso, durante aquelas semanas em que a Festa do Avante foi ganhando forma, ali apareceram estudantes, metalúrgicos, engenheiros, secretárias. E jovens, sempre. Muitos. A viver o poema da Maria Rosa Colaço: Ali chegavam para aprender / o sonho, a vida, a poesia.
À tarde, depois da jornada, lá nos juntávamos ao pé do António. Tantas vezes cansados, com as marcas do trabalho a pesar nos ombros, lá vinha uma cerveja, outro camarada que chegava, mais dois dedos de conversa sobre aqueles criminosos que continuam a matar lá no Líbano. Organizaram-se debates, sobre a Palestina, sobre Música de Intervenção. O Jerónimo esteve lá e discursou para saudar aquela gente toda que tinha saído de casa num Sábado de tanto sol, para ir ali trabalhar sem receber um tostão. E depois lá foi outra vez para o terreno ajudar na construção, como os outros.
Dizer que foram mais de 7700 participações durante as jornadas de trabalho pode correr o risco de não dar a ideia completa. Mas a verdade é que esta Festa, grande, cheia, única, só é assim porque é este Partido que a organiza e constrói. Porque são estes os ideais, os valores, os sentimentos que ali vivem. Porque é ali que ganha ainda mais sentido a frase de um camarada meu, que diz que “o Partido é a casa grande da Amizade”.
À noite, já com não sei quantos mil a percorrerem a Festa, a vivê-la e a fazê-la, actuava no Palco 25 de Abril o Coro Lopes Graça, numa homenagem ao Maestro no centenário do seu nascimento. Lá na fila de trás, de traje a rigor com laço ao pescoço e tudo, ali estava (para surpresa de muitos de nós) o António, cantando o Acordai e as outras Heróicas, num concerto memorável. À saída do Palco, já depois do espectáculo, fui dar com ele entre a Celeste Amorim, o Caeiro, o Valverde, grandes vozes que cantam o Sonho e a Luta.
Naquele abraço camarada de quem festeja a própria festa, disse ao António que tinha sido um grande espectáculo. Ele, que sorria com um olhar que nunca lhe havia visto, respondeu-me “é uma grande festa. Mais ninguém conseguia fazer isto. E não hão-de acabar com ela, eles bem queriam…”.
O António tem toda a razão.