2006/07/26

Os opostos atraem-se



Ela, “toda pipi”, bem parecida, bela, de gesto delicado, porte altivo, vestindo simples, prático mas distinto, projectando movimentos sensuais, toda ela feminina, de fazer inveja a todas as mulheres do seu círculo. Um vulto, envolto em promissor mistério, transbordando frescura.
Ele, tosco, mal entrajado, grosso, de barba rija – nem todos podem, com vantagem sensual, adornar-se de uma barba de três dias – vulgar, mas talvez convencido, porte sorrateiro, talvez fuinha, em nada se distinguindo da manada de homens que dia após dia rondam e quase farejam o sexo oposto. Uma simples e indistinta figura, denunciando lugares comuns.

Mas andavam perdidos, quanto perdidas podem andar duas pessoas que se encontram na vida, enlaçados um no outro, na esperança de qualquer coisa que só a imaginação concebe, à procura de não se sabe quê. Era uma relação desequilibrada, mas proveitosa. Julgavam-na reservada e só sua, mas estava ali mesmo, ao olhar de todos, na Praça Pública. Dava nas vistas tamanho contraste.

Ele, no seu papel másculo, nem se dando conta que a destruía, que lhe arrancava anos de encantamento, lhe matava a felicidade partilhada e genuína. Egoísta, procurava afinal só mais sexo. Não queria perdê-la.
Ela, cega no seu logro, pensando que havia atingido o cume, ou o alvor do amor, a sublimidade da entrega física, da identificação espiritual, ou aquele estádio de entrega perfeita que só o amor construído no altruísmo alcança. Enganada, repetia para si que aquele enlevo seria bem mais do que só sexo. Não era capaz de o perder.

Pensando que tinha encontrado o seu Príncipe, saíra-lhe afinal um sapo ao caminho.
Ignorava que quando o sapo é Príncipe, este se revela logo ao primeiro beijo.
A vida prega-nos partidas, sempre que queremos e nelas cremos.