2006/07/29

Férias, as merecidas


O «Paredes Meias» nada tem que ver com isso. Mas, em todo o caso, aqui fica registado que, cá por mim, fecharei o “estabelecimento” para descanso físico e balanço espiritual.

Fazer Férias será…
parar, andando no tempo certo
dormir até fartar
ler o que mais apetecer
ver só o telejornal
passar a vista por um só jornal
pensar o mundo que nos rodeia
esquecer por momentos que Sócrates nos governa mal
conter a raiva contida
respirar fundo, bem fundo
fazer ginástica e demais movimentos
saborear uma valente mariscada
matar a sede
saciar tudo o mais que não é sede
observar o largo Oceano
pousar os olhos no infinito belo
chapinhar na água
sentir a areia entre os dedos dos pés
cheirar a maresia
desfrutar a praia
apanhar ar fresco numa noite quente
ter saudades de alguém
olhar-me
mirar os outros
lembrar rostos
fechar os olhos
abrir o espírito
rever em memória bons momentos vividos
voar num veleiro
velejar num aeroplano
soltar gargalhadas
brincar na Terra do Nunca
sonhar como uma criança
espevitar todos os sentidos

reflectir, reflectir e mais reflectir
apanhar balanço, para
dar um novo passo, numa nova vida… e
desacelerar o tempo, para
verificar que afinal já não restará qualquer tempo, para descanso.

Até um dia destes!

2006/07/28

Salvé, 28 de Julho


Sete anos. Sete lindas e preenchidas Primaveras de uma pequena, simpática, envolvente e destemida leoa.
Parabéns a ela.
A vida será tua, Princesa.
O Mundo ama-te, se o Mundo amares.

2006/07/27

Terrorismo a coberto da hipocrisia internacional


Os injustificados e desproporcionados meios e ataques militares de Israel contra o Líbano merecem mais do que uma veemente condenação.
Impera a hipocrisia e a agressividade desregrada. Eis o terrorismo em toda a sua pujança.
Assim não pode a Humanidade progredir. Israel é símbolo de retrocesso civilizacional e de Nação arredada do convívio democrático e pacífico entre os Povos.
Estou de luto.
É preciso fazer ouvir a voz do protesto.

2006/07/26

Os opostos atraem-se



Ela, “toda pipi”, bem parecida, bela, de gesto delicado, porte altivo, vestindo simples, prático mas distinto, projectando movimentos sensuais, toda ela feminina, de fazer inveja a todas as mulheres do seu círculo. Um vulto, envolto em promissor mistério, transbordando frescura.
Ele, tosco, mal entrajado, grosso, de barba rija – nem todos podem, com vantagem sensual, adornar-se de uma barba de três dias – vulgar, mas talvez convencido, porte sorrateiro, talvez fuinha, em nada se distinguindo da manada de homens que dia após dia rondam e quase farejam o sexo oposto. Uma simples e indistinta figura, denunciando lugares comuns.

Mas andavam perdidos, quanto perdidas podem andar duas pessoas que se encontram na vida, enlaçados um no outro, na esperança de qualquer coisa que só a imaginação concebe, à procura de não se sabe quê. Era uma relação desequilibrada, mas proveitosa. Julgavam-na reservada e só sua, mas estava ali mesmo, ao olhar de todos, na Praça Pública. Dava nas vistas tamanho contraste.

Ele, no seu papel másculo, nem se dando conta que a destruía, que lhe arrancava anos de encantamento, lhe matava a felicidade partilhada e genuína. Egoísta, procurava afinal só mais sexo. Não queria perdê-la.
Ela, cega no seu logro, pensando que havia atingido o cume, ou o alvor do amor, a sublimidade da entrega física, da identificação espiritual, ou aquele estádio de entrega perfeita que só o amor construído no altruísmo alcança. Enganada, repetia para si que aquele enlevo seria bem mais do que só sexo. Não era capaz de o perder.

Pensando que tinha encontrado o seu Príncipe, saíra-lhe afinal um sapo ao caminho.
Ignorava que quando o sapo é Príncipe, este se revela logo ao primeiro beijo.
A vida prega-nos partidas, sempre que queremos e nelas cremos.

2006/07/25

Bocage nunca morre

Bocage nunca morre. O seu poema
Nasceu para viver eternamente
Num astro de sarcasmos, que desenha
Sublimidade a rir de toda a gente.

Bocage nunca morre. A sua avena
Ressoa nas auroras do presente,
Como clarins de guerra numa arena
Como um toureiro em festa permanente.

Bocage nunca morre. A sua lira
É leve como o ar que se respira
No alto mar azul da solidão

Bocage nunca morre. É como um sonho
Num ramo de oliveiras, onde ponho
Um homem de suprema dimensão.


25 de Maio de 2006

(Soneto da autoria de José Corceiro)

2006/07/24

Planeta Feliz



Um Estado-Ilha da Oceânia, no Pacífico, Vanuatu, ocupa o primeiro lugar no ranking dos países com vida feliz.
Uma fórmula inovadora que abrange parâmetros como a satisfação de vida, a esperança de vida e o impacto ecológico, permite o cálculo do Índice Planeta Feliz que deixa os países industrializados do Ocidente afundados.

No total de 178 países analisados, Portugal ocupa o 136º lugar e a Áustria, em 61º lugar, é o primeiro país da União Europeia na lista. Timor-Leste (48º), Cabo Verde (46º) e São Tomé e Príncipe (22º) deixam-nos a uma desconfortável distância. Ainda assim, ficamos à frente da Austrália (139º lugar), dos EUA (150º), e do Kuwait (159º), entre outros.
Sabe bem perceber que a felicidade conta.

2006/07/21

Pegada lunar



A pegada do homem na Lua faz hoje 37 anos.
Foi em 21 de Julho de 1969 (22,56 hs, de 20 de Julho, em Houston).

Um acontecimento extraordinário, vivido, em directo e ao vivo, nesse quente dia de Verão em que decidimos dormir na varanda do casarão, para espantar o calor e podermos observar a Lua, no firmamento. Claro que nada víamos. Mas imaginámos, quase sentimos o cheiro daquele “relvado” lunar, no Mar da Tranquilidade, onde Niel Armstrong deixou a marca das suas botas. Espevitámos o olhar para tentar descobrir, em contraluz, o módulo de comando em voo, recortado no disco lunar iluminado. Empolgava-nos o que naquele enorme ponto de luz estaria a acontecer. O módulo Eagle poisado na superfície, dois homens lá dentro.

Pressentimos a grandeza do momento. O tamanho do passo. A Lua estava afinal ali tão perto, ao alcance do nosso olhar, ou de um foguetão da NASA.
Naquela noite sonhei com a Lua! No Mar da Tranquilidade. Só, com toda a Humanidade.

2006/07/20

Obrigado? Diga lá obrigada se faz favor!


Tal como grato, reconhecido e agradecido comportam o género feminino grata, reconhecida e agradecida, assim também um obrigado, dito por um senhor ou rapaz, corresponde, no feminino, a um obrigada, dito por uma senhora ou rapariga. Custa assim tanto?
Baralhando os termos, como frequentemente se ouve, não poderemos explicar-nos aos estrangeiros/turistas que, quando nos visitam, perguntam como se diz, em português, na nossa língua, o seu merci, thanks, grazie, danke, etc.
Como será possível que não saibamos, na nossa própria língua, como se diz aquela pequena palavra que quase todos sabem em várias línguas ao mesmo tempo? Ou será que sabemos o trivial dos outros, mas não sabemos o essencial do que é nosso?
Ainda por cima, o nosso obrigado, ou obrigada, estará, segundo alguns, na origem etimológica do mesmo termo em japonês. Não vale a pena maltratar uma palavra com tamanho alcance.
Por favor, senhoras, de todo o Mundo e arredores, respondam sempre com um obrigada, que a língua agradece (sem prejuízo de poderem obviamente dizer obrigado quando usado como interjeição).

2006/07/19

I FEEL GOOD

Whoa-oa-oa! I feel good, I knew that I would, now
I feel good, I knew that I would, now
So good, so good, I got you

Whoa! I feel nice, like sugar and spice
I feel nice, like sugar and spice
So nice, so nice, I got you

(…)

2006/07/12

Estado da Nação

Realiza-se hoje mais um debate de política geral sobre o estado da Nação. Parece ser uma espécie de momento solene para o Primeiro-Ministro se explicar e os deputados da oposição lhe pedirem contas da governação. Acho bem!

Contudo, o nome da coisa sugere uma avaliação mais ponderada e sobretudo mais exigente sobre a Nação e em particular o seu estado. Isso não faz o nosso PM. Como também não atinjo tal propósito, melhor será referir-me ao meu estado de Nação, ou, ao estado da minha Nação, ou à Nação do meu estado, como se queira.

O meu estado hoje deverá ser líquido, já foi vaporoso e consegui ontem derreter o estado sólido no fundo de um generoso copo de whisky.
Não chega? Vou já tentar de novo.

Dizer que tenho fome, sono e me dói a cabeça seria, para esta Nação, um estado calamitoso para não dizer quase comatoso. Era aliás exagerar as coisas.
Como aldrabar seria afirmar que por cá raia o sol, numa praia tropical, ao lado da melhor companhia, bem perto do mar azul-turquesa e de uma bebida gelada.
Então dizer que não me apetece nada e que quero que se danem todos, seria antes um estado demissionário e desinteressado. Ou estado de cansaço.
Dizer que tenho sede, muita sede, sede acumulada, já parece mais perto da realidade. Talvez a praia tropical ainda apareça à porta da minha Nação. E a companhia lá esteja, à espera, na temperatura certa.
Aí o estado da Nação já será mais que cor-de-rosa, será rosa-tropical.

E assim se enganam os incautos. Com vãs promessas.

2006/07/07

Conversa de xadrez (3) – o sacrifício

Enquanto isto, a cavalaria de ambos os lados toma posições estratégicas sempre apoiada pelos infatigáveis peões. A tal ponto, que a dama branca se sente ameaçada por um cavaleiro preto que se posiciona em f-6. Ela antecipara este momento. Inicia-se então o assalto ao reduto real contrário. Da maneira mais nobre e esplendorosa.
Na linha mais dianteira da frente de combate a intrépida dama de branco inicia o seu ritual. Vai sacrificar-se, por amor ao seu imerecido Rei. Altiva, destemida, de semblante enobrecido, avança um passo firme e decidido para a garganta do inimigo, enfrentando-o no seu fortim de fogo e ferro. Ela dá-se, como quem só dá, sem nada receber.
– Alto aí – riposta o rei adversário – eu não convidei sua Alteza para o baile.
Era tarde demais. Para fazer a corte à rainha branca foi escalonado um singelo peão, em f-7, que sorrindo, a contragosto, lá foi posicionar-se no lugar do sacrifício, em g-6. A dama sai de cena, majestosa e bela. O sacrifício da dama branca fora um golpe violento. Nada mais havia a fazer. Fora afinal um presente envenenado.
Ouvem-se ao longe as fanfarras das brancas hostes que, hilariantes pela vitória pré-anunciada, fazem de novo avançar a cavalaria. Nisto, o potente alvo lusitano salta elegantemente para e-7, e, de uma assentada, mortífero, esmaga o esforçado bispo preto, instala-se em posição de combate dominante, coloca o seu prelado na linha da excomunhão real e saúda as hostes, em êxtase, com um dramático grito de guerra.
Échec au roi! – soou em todo o campo de batalha, em Elvis.
Fez-se silêncio sepulcral. Depois, apenas um rumor do soberano.
– O baile findou! Permita-se-me apenas mais um pulinho real.
Sem ouvir resposta, deu-o, para a casa da torre sineira, a única ainda vaga.
Cheque mate ao rei preto! – gritou, de novo, o confiante cavaleiro andante, desta feita em posição definitiva, em g-6, vindo de e-7.
– Ui! Gemeu o Rei, ferido de morte.

Sua majestade tombara, honradamente, mas sem glória, após treze assaltos.
Como por vezes acontece na vida, venceu a grosseria sobre a delicadeza.
As pretas saem de cena, com o seu Rei morto, destroçadas.
As brancas rejubilam e nem choram o sacrifício da sua heroína dama.
O roque é, desde então, recordado com saudade.
O branco, já não é a cor da paz.

Fim

2006/07/06

Conversa de xadrez (2) – a dança do roque

Na trincheira branca ouve-se um crescente murmúrio, seguido de gélidos e estridentes sons metálicos. Toca de novo a fanfarra. Levantam-se os estandartes. Vai haver movimento generoso no campo de batalha. E houve mesmo.
– É a minha vez de avançar – confirma a dama, toda de branco, que acenando ao seu impávido e imperturbável rei, se desloca velozmente, com todo o seu séquito, quatro linhas adiante para a casa h-5.
– Vai em paz nobre rainha. Que o nosso sacrifício seja a tua salvação.
Apre! Certos soberanos, homens de barba rija, sempre viram a história às avessas.

As pretas defendem-se como podem, mandando recuar o cavalinho que havia aniquilado o peão de brega, para agora ocupar uma posição anticlerical. O bispo contrário defende-se, mas não dá a face, desliza antes um passo trás. A posição f-7, bem perto do rei negro está sob pressão. Ele sente-a.
– Avance uma casa na diagonal – ordena o rei preto, em tom aborrecido, ao sempre obediente prelado que o ladeia.
– Ande lá! Está a atrapalhar-me pontífice. Não vê?
– Sua Majestade real tenha cuidado com as suas saídas sob o manto da escuridão. O pecado espreita-nos – adverte o diligente bispo.
– Deixe-se disso homem. Quero apenas dançar o roque, mas é com a fria e altaneira torre. Vossa alteza a Rainha dá-me licença?
– Por quem sois, meu nobre Rei, tenho plena confiança em vós – responde aquela que fora educada pelas melhores aias da corte austríaca em quatro línguas estrangeiras.
As brancas, corteses, fazem o lance seguro e premonitório, dando assim oportunidade para o adversário iniciar a sua dança real. O Rei preto move-se, enfim, com a sua torre, aos acordes do roque, bem ritmado.
No outro extremo do tabuleiro lamenta-se invejoso o rei branco.
– Onde estais minha rainha? Porque me abandonáreis ingrata? Estou só na corte.
Ah! Eis que ele finalmente nota a falta que as damas fazem no Mundo.

(continua)

2006/07/05

Conversa de xadrez (1) – o ataque ao roque

A partida começa, não sem antes os contendores se medirem, de alto a baixo, ao longo de todo aquele imenso campo de Marte composto de 64 minúsculas casas claras e escuras.
Surge no alvor o primeiro ruído de metais. Era o nervoso próprio da batalha iminente.
O alvo peão avança duas casas para e-4. A resposta preta vem rápida, para e-5, encostando a peitaça à armadura do encorpado e-4.
– Quieto aí ó branco que já não arredas pé – vocifera o preto bem alto lá para diante em gesto guerreiro.
– Isto está a ficar tudo igual – ouve-se na trincheira dos peões. O soldado raso é sempre o primeiro a tombar.
A contenda continua. Com a cavalaria.
Ao cavalo em c-3, respondem as negras colocando o seu na quadrícula f-6.
– Monótono – boceja a dama de preto. Podem servir-me um Xerez?
Alto!
As alvas posicionam agora todo o seu credo religioso, avançando o estratégico bispo, na diagonal, de f-1 para c-4. E logo o cavalo preto ocupa e-4 ao som vibrante da armadura do tal peão de brega que cai inanimado.
Alguém se lembra e exclama:
– Está em marcha um violento ataque ao roque.
Era a batalha de Elvis.
(continua)