2006/05/31

Última aula


«Prima non datur, et ultima dispensatur».
Ou seja, a primeira [aula] não se dá e a última dispensa-se [não se recebe]. A este famoso brocardo latino das lides académicas, não se aplicou o dia de hoje. Por razões de excepcionalidade.

Foi o dia da última aula do curso. Curso, em parte, arrancado a ferros, mas feito com perseverança, emoções, conquistas, dissabores e paixões. Foi a última aula deste ciclo, não a última lição de vida.

Para muitas outras pessoas, a quem emocional e intelectualmente me liguei, também foi a última aula. Partilhámo-la, como muitas outras coisas boas partilhámos. Algo se desprenderá, inexoravelmente, a partir de hoje. Amanhã seremos diferentes.

Ficar-nos-á a lição para a vida, aquela que nunca se dispensa.

2006/05/30

Cem por cento!

Ontem vivi um inexistente videoclip do Palma: eram sete da tarde e estava-se tudo a passar. Mil pessoas acotovelavam-se no terminal. Aqui e além, o inefável reaça com a inefável conversa do eles-não-querem-é-trabalhar. Por toda a parte, gente espantada, conformada, pensei que sempre houvesse um ou outro barco a funcionar, como das outras vezes. Mas nada. Nem um. Tudo parado. Até às sete e meia só restava esperar.
No meio disto tudo, um grupo de passageiros que se tinha encontrado por acaso vivia o transtorno como se de uma festa se tratasse. Sorrisos estampados no rosto, que se lixasse o que havia para fazer, isso ficava para depois. Grande greve! Vai ser assim a semana toda. A Maria pôs o dedo na ferida: quem faz uma greve destas é porque não tem nada a perder (não lhe perguntei se estava a lembrar-se do Manifesto). Já terminado o período de greve, a bordo do Cacilheiro, gente que nunca tínhamos visto concordava connosco: eles realmente ganham mal, é uma vida sacrificada.
De nós todos, o melhor foi o Arnaldo. Sorridente, parado no caos do terminal, despediu-se de nós: vão vocês, eu fico aqui a apertar com estes reaças. Queriam fura-greves, não?
Bem nos tinham dito aqueles marinheiros: isto para o fim do mês vai dar que falar. Até sexta-feira, a Transtejo está em Greve por melhores salários. A adesão foi de 100% no primeiro dia. Toda a frota parou. A luta é que continua.
É sempre bom encontrar os amigos. Melhor ainda quando é numa greve assim. Mesmo que seja na óptica do utilizador.

2006/05/25

A Cidade dos Vilecos (7)



















Os Vilecos
sabem cantar e não têm vergonha de amar.

Fim

2006/05/24

Futebol e Função Pública

Quando ouvimos um jogador de futebol justificar a derrota sofrida pela sua equipa aceitamos com naturalidade as explicações que nos são dadas. Ainda que nem sempre essas explicações sejam dadas no uso correcto da Língua Portuguesa compreendemos o esforço e a entrega daqueles profissionais, a sua dedicação ao clube que representam e à actividade que praticam e aceitamos com naturalidade a sua impotência face aos motivos de força maior que quase sempre estão na origem dos seus desaires.
Raramente temos esta atitude para com qualquer outro trabalhador ou funcionário. Especialmente se se tratar de algum que pertença àquelas classes repetidamente caracterizadas como preguiçosas, laxistas ou parasitas, como os funcionários públicos.
Imaginemos qual seria a nossa reacção se nos deparássemos com uma conferência de imprensa convocada por um enfermeiro, um professor, um funcionário das finanças, de um tribunal ou de qualquer outra repartição pública para dizer o seguinte:

Jornalista – Não correu bem isto hoje?
Funcionário Público – Pois, infelizmente não fomos capazes de atingir os nossos objectivos. Sabíamos de antemão que ia ser difícil, fizemos tudo o que pudemos, trabalhámos muito, mas infelizmente confirmaram-se os nossos receios e não fomos capazes de superar os obstáculos.
Jornalista – Mas acha que falhou alguma coisa na estratégia que tinham preparado para este desafio?
Funcionário Público – Não, não. Ao longo da semana preparámos a estratégia para este desafio em função dos obstáculos que já sabíamos que iríamos encontrar. O problema é que não tivemos a sorte do nosso lado e quando assim é torna-se tudo mais difícil.
Jornalista – Apesar do desaire sofrido faz portanto uma avaliação positiva, é isso?
Funcionário Público – Sim, acho que no fim de contas fizemos um bom trabalho. Cumprimos as orientações que tínhamos, estivemos muito perto de atingir os nossos objectivos mas depois, já muito perto do final, acabámos por ceder.
Jornalista – Acha que os assobios que se ouviram das bancadas influenciaram o vosso desempenho?
Funcionário Público – Acabam sempre por influenciar. Quando aqueles que nos deviam apoiar são os primeiros a deitarem-nos a baixo nas alturas em que mais precisamos de apoio, é óbvio que o nosso trabalho fica ainda mais difícil. Espero que no futuro tenhamos melhores resultados para que possamos dar alegrias a todos esses e mostrar-lhes que estão errados quando nos criticam.
Jornalista – Acha portanto que este mau momento não é irreversível?
Funcionário Público – Não, tenho grande confiança neste colectivo, somos um grupo muito unido e saímos daqui de cabeça erguida. Estou certo de que no futuro vamos conseguir melhores resultados e de que vamos chegar ao fim orgulhosos do nosso trabalho. Desde que nos dêem as condições adequadas ao nível de competição em que nos encontramos estou certo de que conseguiremos atingir os objectivos a que nos propusemos.

Imagine-se o que seria termos o mesmo nível de compreensão para com estes trabalhadores que temos para com os jogadores de futebol. Seríamos mais exigentes para com os jogadores de futebol que perdem jogos e campeonatos apesar de ganharem milhões e terem todas as condições de trabalho ou compreenderíamos melhor o trabalho dos funcionários públicos que ganham muito menos e muitas vezes não têm condições para fazerem o seu trabalho? Certo, certo é que seríamos de certeza mais justos sem os preconceitos que hoje mantemos…

2006/05/23

Vergonha vs derrota


Você é a cara da vergonha – acusa Carrilho.
Você é a cara da derrota – responde Ricardo Costa.

Foi com este pouco esclarecedor diálogo que, já noite dentro, terminou o debate no “Prós e Contras” acerca do livro de José Maria Carrilho.

Na verdade, devo em parte penitenciar-me do post do passado dia 12. O tiro no pé dado por Carrilho continua lá. O que Carrilho consegue, em todo o caso, por boas ou más razões, foi abrir um debate em torno da seriedade da nossa comunicação social, dos seus comportamentos e critérios pouco próximos da recomendável ética profissional. Feito notável. Porque este debate é útil, é necessário e é urgente que se faça.

O debate de ontem não chegou sequer como aperitivo porque enevoado com a figura de Carrilho e o seu livro, estilo mata dois coelhos.

Ricardo Costa – desculpa mas é verdade – saiu-se bem mal, e, em vez de defender verticalidade deontológica argumentou contra Carrilho como se de um debate político se tratasse. Como se estivesse a concorrer contra Carrilho para qualquer coisa. Ricardo Costa mais parecia o intratável e sobranceiro Rangel dos loucos anos SIC.

Emídio Rangel apareceu travestido de anjo. Parecia que nunca tinha andado naquela roda do contra-poder. Como se tivesse descido agora à Terra e não soubesse como se urde a teia comunicacional. Pôs o dedo na ferida, certo, só que para ser credível tem ainda que suar as estopinhas.

O debate que prossiga. Bem dele precisamos todos.

2006/05/22

A Cidade dos Vilecos (6)




...e perseguem tudo o que invejam!

2006/05/19

A Cidade dos Vilecos (5)







«invejar as canções dos Vilecos»!?

2006/05/18

Ainda o «critério jornalístico»


“O homem mordeu no cão”! Eis o paradigma da notícia. Aos jornalistas em formação, esta frase é-lhes repetida até à exaustão. Até aprenderem o seu verdadeiro significado prático. É mesmo um guia de conduta para o futuro.
Porque que é que quando “o cão mordeu no homem”, não é notícia?
O paradigma da notícia é um dogma?
O critério jornalístico assenta numa verdade absoluta?
A notícia é um texto inatacável?
Há em democracia redutos intocáveis?

2006/05/17

Avião no Pentágono?

Versão oficial, mundial e exaustivamente repetida: o voo 77, da American Airlines, despenhou-se, às 9,37 horas locais, do dia 11 de Setembro de 2001, contra o Pentágono.
Esta versão, que todos conhecemos, foi desde bem cedo envolta em interrogações e dúvidas, com fundamento em evidentes incongruências. Criou-se a chamada teoria da conspiração, mais uma, daquelas que os americanos tanto gostam. Em 2002, o francês Thierry Meyssan publicou um livro onde garante, após investigação jornalística, que o atentado de 2oo1, contra o Pentágono, não terá passado de uma encenação de um influente grupo da indústria militar americana. Com efeito, vídeos que abundantemente circularam na net nunca goraram revelar o avião “fantasma”.
Agora temos dois vídeos oficiais que a associação “Judicial Watch” arrancou ao Departamento de Justiça dos EU.
Resultado: as imagens captadas por duas câmaras de vigilância mostram uma explosão no edifício do Pentágono. Isso já sabemos. Só não mostram o que todos ambicionam ver: Não se vê qualquer avião a embater no Pentágono. Uau!

(quando puderem e deixarem, visitem o site: http://www.judicialwatch.org/)

A Cidade dos Vilecos (4)





...cada um(a) dá à cidade o nome que quer ...

2006/05/16

O Homem novo

"Paralelamente a esse processo, uma mudança na personalidade humana e uma alteração do próprio homem devem inevitavelmente acontecer. Esta alteração tem três raízes básicas. A primeira delas consiste no próprio facto da destruição das formas capitalistas de organização e produção e das formas de vida social e espiritual que a partir daí irão surgir. Juntamente com a destruição da ordem capitalista, todas as forças que oprimem o Homem e que o mantêm escravizado pelas máquinas e que interferem com o seu livre desenvolvimento também desaparecerão e serão destruídas. Juntamente com a libertação dos muitos milhões de seres humanos da opressão, virá a libertação da personalidade humana das correntes que restringem o seu desenvolvimento. Esta é a primeira fonte—a libertação do Homem.
A segunda fonte de qual emerge a alteração do homem reside no facto de que, ao mesmo tempo em que as velhas correntes desaparecem, o enorme potencial positivo presente na indústria de grande escala, o já crescente poder dos homens sobre a natureza, será libertado e tornado operativo. Todas as características discutidas acima, das quais o exemplo mais notório é a forma completamente nova de criar um futuro baseado na combinação de trabalho físico e intelectual, perderão o seu carácter dualista e mudarão o curso da sua influência de um modo fundamental. Considerando que anteriormente suas acções foram dirigidas contra as pessoas, agora elas começam a trabalhar por causa delas. Do papel de obstáculos que desempenharam outrora, elas transformam-se em forças poderosas de promoção do desenvolvimento da personalidade humana.Finalmente, a terceira fonte que inicia a alteração de homem é a mudança nas próprias relações sociais entre as pessoas. Se as relações entre as pessoas sofrem uma mudança, então juntamente com elas as ideias, padrões de comportamento, exigências e gostos também mudarão. Como foi averiguado através da pesquisa psicológica, a personalidade humana é formada basicamente pela influência das relações sociais, i.e., o sistema do qual o indivíduo é apenas uma parte desde a infância mais tenra. ‘Minha relação para com meu ambiente’, diz Marx, ‘é minha consciência’. Uma mudança fundamental do sistema global destas relações, das quais o homem é uma parte, também conduzirá inevitavelmente a uma mudança de consciência, uma mudança completa no comportamento do homem."

(Vygotsky, "A transformação socialista do Homem", 1930)

É também por isto que vale a pena!!

2006/05/15

A Cor do Crime


“Freedomland/A Cor do Crime” é um filme triste, mas que vale a pela ver e compreender.
Descreve uma situação dramática e de grande intensidade emocional, num fôlego frenético, desde o primeiro ao último minuto, vivida por uma mulher branca, inserida numa comunidade local negra, em torno da investigação de um crime.
Mostra como complexas podem ser as emoções, individuais e colectivas, e os sentimentos que lhes dão origem, e como esse nosso lado interage com a percepção que temos da sociedade.
Revela como o cliché racista também nos conforma, levando, por vezes, a atitudes que racionalmente não admitiríamos como possíveis.
Dá exemplo do desespero a que pode conduzir a carência prolongada de afectos e como deles precisamos para viver.
Valeu a pena!

2006/05/12

«Critério jornalístico»


O que é isso do «critério jornalístico»?

Foi usado de novo agora a propósito do mega deslize de Carrilho.
Gostava de saber.

Os protagonistas do jornalismo fariam bem à sua profissão se conseguissem explicar direitinho em que consistem tais “critérios jornalísticos” que de volta e meia atiram para a frente para tapar a boca aos leigos destas coisas.

Alguém quer contribuir?

As (auto)sevícias de Carrilho


O ex-candidato à Câmara Municipal de Lisboa, Manuel Maria Carrilho, lançou o livro, “Sob o signo da verdade”, para “explicar” a sua derrota eleitoral. Que enorme tiro no pé. A desfaçatez virou ridículo. Carrilho defende o indefensável e da maneira mais tosca, ainda que possa ter crédito de queixa contra a comunicação social.
A quem voltar a encontrar a cabeça de Carrilho, roga-se que telefone, e lha entregue, por favor.

2006/05/11

A Cidade dos Vilecos (3)


2006/05/10

A Cidade dos Vilecos (2)


Continuação da publicação iniciada dia 6 de Maio:

Também daqui lhes desejamos

Felicidades!

2006/05/09

Amor

O amor não se destina a coleccionadores (as) que, após o sucesso da “caçada”,
ordenam e classificam troféus a serem exibidos aos demais.
O amor acontece, quase sem se perceber bem porquê,
naquelas pessoas que são flexíveis, quer no modo de agir, quer na maneira de pensar.
Porque se dão sem reflectir que o fazem.
Entregam-se sem questionar o outro.

2006/05/08

Parlamento Jovem

Iniciou-se hoje, na sala do Senado da Assembleia da República, a VI sessão parlamentar da “Assembleia na Escola”. Também há anualmente uma iniciativa paralela que envolve as crianças. Nesse dia, lá rumam as crianças a São Bento para brincar aos deputados.
Hoje é o dia dos jovens, mas nem por isso deixam de brincar aos deputados.
Vêm todos aperaltados, mais no resto do que até na indumentária, a darem-se ares de “eleitos”. Brincam aos parlamentos, como se fossem uma mini Assembleia da República.
Aprendem? Sem dúvida! Apenas duvido que aprendam o melhor e da melhor maneira.
Copiam e duplicam tudo: métodos, funcionamento, designações etc. Até se tratam por senhores e senhoras deputados (as). Assumem todos os tiques do que de pior há em tiques parlamentares. Não sei bem se aprendem a democracia ou antes precisamente os maus hábitos e tiques que os “grandes” têm em demasia. Se, algum dia, vierem a ser eleitos, já trazem a escola toda, literalmente.
Como é possível falar depois em afastamento entre governantes e governados se os futuros putativos governantes, em vez de questionar e contestar, como se faz em jovem, assimilam os piores males que precisamente são pedra de toque desse indesejado afastamento.
Nota negativa.

A cidade dos Vilecos


Esta pequena obra brochurada, apareceu e foi distribuída no início dos anos 70 – antes do 25 de Abril – contendo apenas a seguinte menção: «Edição de Pedro Lobo Antunes, Impresso na Fotolitografia F. Guedes – Lisboa».
Embora datada, esta obra tem ainda uma acutilante actualidade, em face dos comportamentos e hábitos hoje induzidos pelas camadas política e socialmente dominantes – os velhos? –, em presença da sufocante globalização, da castrante devoção ao económico de toda a vida social e cultural, do afunilamento a meros pensamentos tolerados, da exasperante promoção da ausência de valores, do empobrecimento das relações inter-pessoais a troco do imediatismo interesseiro, da padronização de comportamentos humanos impostos por uma nova moral, etc.
O predomínio absoluto do critério económico ou economicista, que entretanto invadiu toda a vida da nossa “cidade”, consome-nos ou “mata-nos” aos poucos, enquanto seres serenamente imprevisíveis, criativos e ávidos de vida imaginada. Não nos garante qualidade de vida alguma, nem futuro construído em harmonia de vivências.
Quem me dera hoje poder ser vileco!
Construir a tal cidade.
Vamos ver como eles a imaginavam...

2006/05/05

Paixão (3)


Há quem distinga paixão de encantamento, sendo esta uma espécie “pobre” daquela,
uma paixão não atingida. Esquece-se que a paixão não tem limites.
Encantamento é já paixão. Tudo é enlevo!

2006/05/03

Qual é a crise? Quem a pinta? Quem a paga?

Título de hoje do «Diário Económico», página 21:



"Quatro maiores bancos privados
lucram mais 30%
.
No primeiro trimestre, BCP, BES, Santander Totta e BPI lucraram 483,9 milhões de euros. Com excepção do BPI, os outros três bancos registaram subidas de lucros na casa dos dois dígitos"

Paixão (2)


A Paixão não tem definição possível.
Definir é confinar, é estabelecer limites.
Ora a paixão não tem limites, nem se deixa confinar no tempo, no espaço ou em razão das pessoas.

2006/05/02

Paixão (1)


As paixões humanas não têm conta.
São pelo menos tantas, quantos homens e mulheres há no planeta azul
e mais aquelas que cada um deles vai transportando até às gerações vindouras.