2006/01/10

É Criança, não paga. No nosso Metro, já paga.

Pomona
Estação Picoas - Escultura de Martins Correia - Fotografia de José Carlos Nascimento
no site do Metropolitano de Lisboa

Esta expressão ouvi-a eu, por diversas vezes, durante a recente visita a Roma. A criança em causa tem seis anos de idade, e nada pagou no Metro, no autocarro turístico em Roma, no "Leonardo express" – o comboio que liga o aeroporto de Fiumicino a Roma Termini –, nas entradas em recintos de interesse turístico e exposições, nem no Museu do Vaticano que dá acesso à capela sistina. Invariavelmente, diziam-me, "i bambini" não pagam. Era como se estivesse na "Terra do Nunca" ou num Mundo cujos reis e rainhas sejam as crianças. Óptimo!

Por cá as rocas fiam mais fino. As crianças pagam sim senhor. A primeira pergunta que aqui é logo disparada, em tom inspectivo e semblante dubitativo, é, invariavelmente, a seguinte: que idade tem a criança? É, só depois, em função desse número mágico, que as coisas se decidem.

Por exemplo, no Metro de Lisboa, qualquer criança com mais de 4 anos de idade paga bilhete inteiro, como se fosse adulta. Mais, as bilheteiras mecânicas nem essa informação prestam aos zelosos utentes. O cliente que adivinhe se quiser. Uma criança que vá ao cinema, deslocando-se de Metro, paga 4 € pela diversão e 1,40€ pelo transporte (35%). Zás!

Parece que não queremos bem que as nossas crianças cresçam, avancem na idade. Crescer na idade acarreta o ónus de pagar, não tanto o de contribuir para a harmonia da sociedade ou o “dever” de preparamos as crianças para essa convivência. Fará isto sentido? Podem, um dia destes, ao menos, começar a pensar nas crianças que crescem para o Mundo e não nas crianças como estorvo ou fonte lucrativa?